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As bainhas abertas constituem, como os crivos, um trabalho em que, previamente, se retiram fios ao tecido. Mas enquanto que nos crivos, quase sempre, se retiram fios da trama e da teia, e predomina o trabalho em superfícies em que nenhuma direcção prevalece sobre outra, nas bainhas só se retiram os fios numa dada direcção, paralela ao correr do trabalho e do modo como este se desenvolve.

Na nomenclatura local, sempre difícil de definir ou estabilizar, pois entre quatro  bordadeiras da mesma terra é banal ouvirem-se quatro versões… existem, basicamente dois “pontos”: o ponto a direito e o ponto cruzado. Com estas designações pretende-se colocar em evidência o facto de, no ponto a direito se manipularem conjuntos de fios que são os mesmos que correm de cima a baixo do trabalho. No ponto cruzado, tal não acontece e o trabalho parece feito em viés ou na diagonal em pata de galinha, no dizer das bordadeiras.

Quem faz bainhas abertas geralmente especializa-se neste tipo de trabalhos. Embora muitas bordadeiras tenham aprendido a bordar outros pontos, quando se dedicam às bainhas abertas, dificilmente deixam de as fazer. Vê-se que têm uma particular estima por este trabalho que não lhes exige o papelão, e o coser e descoser o tecido que o seu uso acarreta e que, depois dos fios tirados, se faz bastante depressa, quando comparado com outros tipos de bordado.

Como o nome indica, durante muito tempo, as bainhas constituíam uma técnica que, sobretudo, valorizavam os acabamentos de toalhas e lençóis, embora desde sempre, tenham sido usadas num contexto decorativo mais amplo, como por exemplo a definir centros de mesa. De há uns quinze anos a esta parte têm, contudo, ganho grande ascendente e, nos nossos dias, fazem-se bainhas abertas em quantidades e expressão verdadeiramente extraordinárias.

A esta moda não será indiferente o seu carácter mais abstracto, menos figurativo, eventualmente, mais adequado à uma sensibilidade e gosto contemporâneos. A produção de Bordado de Terra de Sousa, se tem problemas técnicos, com alguma importância, na transposição dos riscos para o tecido, ainda os tem mais agudos no que diz respeito à renovação dos desenhos. Nota-se aqui, salvo honrosas excepções, um gosto pouco informado e exigente o qual, traduzido em bordado, afugenta uma clientela mais sofisticada ou que não aprecia desenhos nostálgicos ou revivalistas. Esta mesma clientela, quando sensível ao conforto de uma fibra natural como o linho e ao discreto luxo de uma toalha bordada compra, mais facilmente, peças decoradas com bainhas abertas, que outras cujos bordados com motivos que nada lhe dizem. Por outro lado, as bainhas abertas tornam-se especialmente apropriadas em peças como cortinas ou cortinados, pois jogam numa transparência que, no entanto, é mais aparente que real.

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