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No cimo de uma portela que domina dois imensos vales, o do Sousa e o do Tâmega, desenvolveu-se, pelos finais do século XIX, uma importante produção de bordados, tão espantosa quanto desconhecida, tão importante quanto ignorada.

Foi por aqui, de um lado e doutro da velha Estrada Real que ligava o Porto a Trás-os-Montes, que se estabeleceu e definiu, há mais de cem anos, a área onde se encontra o maior número de bordadeiras em Portugal Continental.

Em locais como Figueiró da Lixa, no concelho de Amarante, Airães, Aião, Vila Verde, Lixa ou Santão no concelho de Felgueiras, Torno, Meinedo ou Caíde de Rei, no concelho de Lousada, enfim por todas as freguesias que confinam com a portela do Alto da Lixa, gerações de bordadeiras acumularam, ao longo de mais um século, as tarefas próprias da vida doméstica e familiar com a actividade de bordar, definindo aquela que é, no Continente, a mais importante região produtora de bordado e que, ainda nos nossos dias ocupará, seguramente, mais de mil e quinhentas bordadeiras.

Segundo um texto de 1913, o bordado dito “da Lixa”, ter-se-á iniciado na freguesia de S. Tiago de Figueiró.

Todavia rapidamente se terá espalhado por todas as freguesias limítrofes ocupando, desde há muito, a sua actual área de ocorrência. As cidades do Porto e Guimarães terão tido um relevante papel na organização e estruturação do mercado deste bordado, do que decorre o facto do Bordado de Terra de Sousa nunca ter cristalizado numa imagem que lhe desse uma identidade óbvia.

Pelo contrário, a sua identidade reside na sua versatilidade e extrema adaptabilidade a um mercado que foi sempre urbano.

Ao estudar este bordado encontra-se, de facto, um caleidoscópio de imagens onde, no entanto, se podem observar os sinais específicos que o distinguem de outros bordados.

À extraordinária técnica da bordadeira da Terra de Sousa, que borda com o tecido cosido àquilo a que chama o papelão – uma solução única, de um engenho inultrapassável - corresponde um domínio das técnicas de bordar que não encontra qualquer paralelo nas outras regiões portuguesas produtoras de bordado, Região Autónoma da Madeira incluída.

Não serão todas, mas as boas bordadeiras da Terra de Sousa, muitas mais do que se imagina, dominam mais de 200 diferentes pontos de bordar. Dominam e dominam muito bem. Com uma maestria que só encontra equivalência na sua espantosa discrição.

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